Fernando Ulrich

De jornalista a banqueiro, Fernando Ulrich deu que falar com os seus artigos de análise à bolsa n’ Expresso

A herança Ulrich

Fernando Maria Costa Duarte Ulrich nasceu em Lisboa, Santa Isabel, a 26 de abril de 1952. É filho de João Jorge Maria de Melo Ulrich, que foi diretor da Tabaqueira, e de Maria Isabel Buzaglo Costa Duarte. Os Ulrich provêm de uma família do Norte de Hamburgo ligada ao comércio bancário e à arquitetura, que se estabeleceram em Portugal em meados do século XVIII.

Após o terramoto de 1755, a família cooperou ativamente na reconstrução de Lisboa, a convite do Marquês de Pombal, prosseguindo os seus negócios no ramo financeiro.

 

 

A ligação à banca vem de família. O avô paterno, Fernando Enes Ulrich, foi administrador do Banco de Portugal, enquanto o avô materno, Mário de Sousa Costa Duarte, estava ligado às áreas de corretagem e dos seguros. O bisavô foi vice-governador da Companhia do Crédito Predial.

 

 

Fernando Ulrich estudou no Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa, de 1969 a 1974, onde foi colega de Eduardo Ferro Rodrigues, António Peres Metelo e Félix Ribeiro…

… mas não chegou a terminar a licenciatura em Gestão de Empresas. 

 

A passagem pelo Expresso

Ainda estudante integrou a redação fundadora do Expresso, lançado por Francisco Pinto Balsemão, e que contava com dez jornalistas. Entre 1973 e 1974 foi responsável pela secção de Mercados Financeiros, assinando textos com o pseudónimo de Vicente Marques.

 

 

No primeiro sábado de 1973, a opinião pública encontrou nas bancas um semanário diferente de todos os outros. O modelo era o dos «jornais ingleses de domingo de qualidade». Para isso, Augusto de Carvalho (chefe de redação) faz um estágio no Reino Unido, acompanhado do diretor de publicidade e de Fernando Ulrich.

O grupo trabalha nos londrinos The Sunday Timese The Observer. Atenta, a Direção-Geral de Segurança (DGS, sucessora da PIDE), interceta e fotocopia a correspondência trocada entre Balsemão e os seus homólogos ingleses, fazendo-a chegar às mãos de Marcello Caetano.

 

 

Os artigos de Fernando Ulrich de análise da bolsa tinham grande densidade, refletindo (já então) um notável domínio das matérias económicas, dando-lhe fama e glória.

No início dos anos 70 havia uma febre bolsista e Fernando Ulrich juntou-se com os amigos para criar um cabaz de capital para investir na bolsa. Ulrich, então com pouco mais de 20 anos, era o grande dinamizador deste «fundo de investimento amador». Mas esse «El-Dorado» acabou no dia que Fernando Ulrich se tornou jornalista, revelando a sua conduta deontológica. «Desde o dia em que entrou no Expresso, nunca mais nos deu dicas de investimento, com muita pena nossa. Isto demonstra quanto o Fernando é estruturalmente sério», disse um dos amigos do CEO do BPI.  

 

 

Em janeiro de 1980, quando Balsemão passa a ministro-adjunto do Primeiro-Ministro, no Governo de Sá Carneiro, nomeia Marcelo Rebelo de Sousa para diretor interino. Mesmo em São Bento, o dono não deixa de velar pelo jornal. Não confiando em Marcelo, chega a convidar Fernando Ulrich para o seu lugar. «Em 1980/81 passei por um susto horrível: o Dr. Balsemão quis que eu fosse diretor do jornal (...) Fiquei completamente dividido, mas acabei por não aceitar».

 

Fernando Ulrich, o banqueiro

Em 1983, a convite de Artur Santos Silva, entra na Sociedade Portuguesa de Investimentos (SPI), que vem dar origem ao Banco Português de Investimento  (BPI). Antes, havia sido técnico do Secretariado para a Cooperação Económica e, posteriormente, assessor do Embaixador de Portugal junto da OCDE, em Paris. Desempenhou ainda as funções de chefe de gabinete dos ministros das Finanças e do Plano dos governos Balsemão, Morais Leitão e João Salgueiro. Em 1980 trabalhou no departamento internacional do Banco Pinto & Sotto Mayor.

 

 

Em abril de 2004, e já no cargo de vice-presidente, Fernando Ulrich torna-se presidente do BPI. Identificado publicamente com o PSD, é um dos fundadores da iniciativa Compromisso Portugal. Opinativo e irreverente, tem proferido algumas declarações polémicas, como a célebre frase, a propósito das políticas de austeridade em Portugal, «ai aguenta, aguenta».

 

 

Em entrevista ao Expresso afirmou que «Gosto de participar na vida da sociedade» e por isso «um dia gostava de ser deputado».

 

 

Tal como Fernando Ulrich, a sua mulher Diana Melo e Castro fez carreira como jornalista n’A Capital, até entrar para o PSD, onde passou a responsável pelo gabinete de comunicação a partir de 1979. Integrou o gabinete de apoio à Presidência da República desde abril de 2006.