Artur Agostinho

Radialista, jornalista, ator, apresentador… a sua carreira é multifacetada e a sua voz inconfundível. Artur Agostinho marca a Comunicação e o Jornalismo em Portugal

Artur Agostinho foi uma cara muito conhecida da televisão. Para além de protagonizar tantas séries televisivas, destacou-se como ator nos filmes O Leão da Estrela (1947), Capas Negras (1947) e Cantiga da Rua.

Não seria, no entanto, apenas na televisão que Artur Agostinho faria História.

A chegada à rádio

Artur Fernandes Agostinho nasceu a 25 de dezembro de 1920, em Lisboa. Em 1938, iniciou-se como locutor de rádio amador na Rádio Luso, em Lisboa. Mais tarde, passa ainda pelas Rádio Voz de Lisboa, Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Peninsular e Rádio Clube Português.

Em 1945, com 25 anos, o locutor ingressava na Emissora Nacional através de concurso público. Aqui estreou-se nos relatos de jogos de futebol e hóquei em patins, quando o jornalismo desportivo radiofónico se encontrava ainda nos seus primórdios.

Na estação oficial, Artur Agostinho acompanhou a seleção nacional de hóquei em patins nas grandes vitórias nos campeonatos da Europa e do Mundo, e ainda no Torneio de Montreux.

Destacou-se também na cobertura radiofónica de várias Voltas a Portugal em Bicicleta, e testemunhou as grandes vitórias do futebol português da década de 60, para além de cobrir os Jogos Olímpicos de Helsínquia, Roma e Tóquio.

O seu grito «É gooooooloooooooo» persiste na memória da História da Rádio em Portugal.

 

 

A sua dicção e timbre inconfundíveis garantiram-lhe funções de jornalista, repórter, locutor e apresentador. Até o teatro o recrutou como ator.

O programa onde mais se destacou foi os Serões para Trabalhadores, patrocinado e incentivado pelo regime. Seria também destacado para acompanhar visitas presidenciais e ministeriais, protagonizadas por Craveiro Lopes e Américo Thomaz, a África, Brasil e outros locais.

Algumas das reportagens mais relevantes que fez passaram pelas cerimónias do Santuário de Fátima, assim como a visita da Rainha de Inglaterra a Portugal.

Após a Revolução dos Cravos, o locutor foi detido pelo COPCON, acusado de pertencer ao golpe de 28 de setembro de 1974, a favor do General Spínola. Histórias circularam que Artur Agostinho tinha sido preso disfarçado de padre, dentro de um carro funerário e que o caixão, em vez de um morto, levava armas.

Artur Agostinho esteve preso durante três meses, até 24 de dezembro de 1974. Após a sua saída, o jornalista partiu para o Brasil, onde esteve seis anos. Aí trabalhou na Rádio Continental do Rio de Janeiro e na Rádio Globo, sendo responsável por dois programas semanais dedicados ao futebol português.

De volta a Portugal

Em 1981, volta a Portugal. Na bagagem teria a experiência de dois anos na Rádio Globo em desporto, que transportou para a Rádio Renascença. Surge, então, o programa «Bola Branca» - que ainda perdura. Do seu saber adquirido no estrangeiro, foi ainda introduzido o popular anúncio dos nomes dos jogadores, cantados pelos comentadores.

Artur Agostinho revolucionava a informação desportiva em Portugal. A Renascença passou a ser a rádio mais ouvida no país, dando novo ritmo e uma maior independência ao jornalismo desportivo.

Conquistava a liderança do jornalismo desportivo e chegaria a colaborar no departamento desportivo da Antena 1, até 1996.

Dirigiu também o diário desportivo Record, entre 1963 e 1974. Conhecido adepto sportinguista, esteve igualmente à frente do jornal do Sporting. 

Mais tarde, em 2005, o jornal Record criava um prémio em sua homenagem, destinado a protagonistas do desporto que se tenham também distinguido nesse ano. Artur Agostinho entregou o galardão, pessoalmente, a Pauleta (2005), Scolari (2006), Rui Costa (2007), Cristiano Ronaldo (2008), Luís Figo (2009) e José Mourinho (2010).

Estrela no pequeno ecrã

O percurso de Artur Agostinho não se ficava pela rádio, nem tampouco pelo jornalismo.

Passava para o pequeno ecrã, na RTP, onde apresentou variados concursos de muito sucesso, como “Quem Sabe Sabe”, “Ou Sim Ou Não”, “Quem tudo Quer Tudo Perde”.

O programa “Curto-Circuito”, realizado no Teatro Monumental em Lisboa, faria igualmente grande sucesso.

Como ator, participou em vários filmes, novelas e séries, que o dariam a conhecer às gerações mais novas.

Em 2010, era atribuído ao jornalista o Prémio Globo de Ouro SIC/Caras de Mérito e Excelência.

Em dezembro de 2010, Artur Agostinho foi agraciado por Cavaco Silva com a Comenda da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, numa cerimónia que decorreu no Palácio de Belém. O comunicador confessaria mais tarde:

«Realmente foi um dos dias mais felizes da minha vida».

Pouco antes de morrer, em março de 2011, o jornalista lançava um novo livro: Flashback – Uma história da vida real. Numa outra faceta sua, Artur Agostinho mostrou os seus dotes de escritor, ao registar em livro vários episódios da sua vida.

O nome de Artur Agostinho ficaria gravado para sempre na História da Comunicação em Portugal. Mais do que locutor de rádio ou ator, Artur Agostinho foi um grande comunicador.

A sua voz a relatar os dois golos «dos 5 violinos», numa vitória do clube leonino, fará eco para sempre no Museu Mundo Sporting.

«Não tenho dúvidas em dizer que com ele morre uma parte importante da história da rádio. A uma certa altura o Artur Agostinho foi a rádio. Desenvolveu as mais variadas atividades, dos relatos à informação, passando pelo teatro radiofónico, sempre competente em todas as áreas. Ele era a rádio». Ribeiro Cristovão, jornalista