Manuel António Pina

Repórter, redator, editor, chefe de redação e, sobretudo, cronista. Manuel António Pina Manuel António Pina é considerado uma «lufada de ar fresco» no Jornalismo português

«Diz-se que os povos felizes não têm história. Não é fácil (nem bonito) dizê-lo, mas às vezes, a infelicidade de um povo é a felicidade dessa espécie de historiadores do presente que os cronistas (sobretudo aqueles que, como eu, praticam sobretudo a crónica como género jornalístico e não literário) são».

Manuel António Pina, numa entrevista ao Jornal de Notícias, assumia-se como cronista.

Atrás da máscara de jornalista, erguia-se um homem com muitas outras facetas.

António Manuel Pina nasceu no Sabugal, a 18 de novembro de 1943.

Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, mas a verdadeira vocação chamou-o para as paragens da escrita.

Tornou-se jornalista no Jornal de Notícias, onde somou uma carreira de três décadas.

Foi repórter, redator, editor e chefe de Redação. Enquanto cronista, manteve, na última página do jornal, a sua crónica «Por outras palavras», participando ainda na Notícias Magazine, um suplemento do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias.

O jornalista-escritor

Contudo, Manuel António Pina não se ficaria apenas pelo jornalismo.

Desde cedo mostrou um jeito inigualável com as palavras, e em 1974 estreou-se na poesia com o livro Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo, Calma, É Apenas Um Pouco Tarde.  

A sua obra literária é fundamentalmente constituída por poesia e literatura infantil.

No entanto, Manuel António Pina seria igualmente autor de inúmeras peças de teatro, assim como de livros de ficção e de crónica.

A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.

Os seus dotes de escrita cedo provaram ser únicos e merecedores de vários prémios e distinções.

Manuel António Pina foi agraciado com o Prémio de Poesia da Casa da Imprensa (1978); o Prémio Gulbenkian (1987); o Prémio Nacional de Crónica Press Club/Clube de Jornalistas (1993); o Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários (2002); o Prémio de poesia Luís Miguel Nava (2003); e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT (2005).

A 9 de junho de 2005 foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

Em 2011, o jornalista e escritor era agraciado com o Prémio Camões, o maior prémio literário da Língua Portuguesa.

Esta atribuição do Prémio Camões foi uma das mais consensuais de sempre quer por parte do júri quer por parte da crítica e do público.

Cronista por excelência

Os gatos fizeram a grande imagem de marca de Manuel António Pina.

Mas, para além dos seus oito gatos, o jornalista ultrapassava as barreiras da popularidade como escritor e, principalmente, como cronista.

As suas crónicas diárias publicadas no Jornal de Notícias, entre 1984 e 2012, valeram-lhe uma legião de seguidores. Seis meses após a sua morte, a Assírio e Alvim lança uma antologia com algumas das suas melhores crónicas, numa obra intitulada Crónica, saudade da literatura.

Manuel António Pina faleceu a 19 de outubro de 2012.

Ao longo dos anos, Manuel António Pina foi um farol da crónica pequena (mas nunca pequena crónica). […] As páginas de jornais, o mundo das crónicas, ficam agora com um défice colossal. E uma dívida ao passado que nunca conseguirão pagar». Fernando Sobral

Manuel António Pina seria para sempre recordado pelos seus pares como uma «lufada de ar fresco» no jornal que o imortalizou.

«Ele foi inovador. Quando chegou nos anos 70 [ao Jornal de Notícias] criou um estilo novo. Nós vivíamos ainda espartilhados pela censura, o jornalismo era muito ontem aconteceu, e o Pina […] deu vida às notícias, deu vida à reportagem». Germano Silva